Não gosto!
Não gosto! Não gosto da maneira como os portugueses estão a viver o Euro. Não gosto que se seja patriota só por causa do futebol. Os "manda-chuva" estão todos contentes porque nunca antes se assistiu a uma tão flagrante mostra de patriotismo, com as bandeiras nos carros e nos prédios, etc.. Será que o português médio só tem orgulho de ser português durante 90 minutos? Ou nem isso, porque durante o jogo com a Grécia nem 90 minutos durou o patriotismo.
Há dias, no autocarro ouvi duas senhoras que se queixavam que o mesmo era velho e que era mais um que tinha sido "importado da Alemanha", que "como já não servia para eles, que os mandavam para cá". Provavelmente é verdade.
Era um autocarro sem ar condicionado, não especialmente velho, e sem cortinas. Nesse dia o céu era uma imensa tela azul e os termómetros deviam andar pelos trinta e poucos graus. Para quem ía do lado do Sol, a viagem era penosa. Eu ía do lado da sombra e estava cheio de calor!
É claro que o autocarro pode ser muito velho e muito podre e muito tudo o mais que a senhora quiser mas... Se esse autocarro está cá é porque alguém o comprou. E porque compraria alguém um autocarro sem ar condicionado e sem cortinas para um país como o nosso (que não tem propriamente o clima da Germania)? Provavelmente porque era mais barato do que um autocarro novo.
Curioso é que acho que, se a dita senhora estivesse encarregue de comprar autocarros para a Rodoviária de Lisboa, ela compraria o mesmo autocarro sem ar condicionado e sem cortinas. Caramba! Se calhar até se fosse eu (mas acho que não) comprava esse mesmo autocarro. O português, quando e onde puder, compra do mais barato, a não ser que seja rico (e estúpido) e aí faz gala em comprar do mais caro para impressionar os outros. Não tem consideração pelos seus semelhantes (ou não tão semelhantes). Não se importa se os passageiros viajarão com conforto quando compra o autocarro, e se puder tirar o ar condicionado para pôr mais uma fila de bancos que dá para mais meia dúzia de passageiros então melhor...
Não gosto da cultura de quantidade vigente em Portugal. Interessa sobretudo ter, o mais possível. Não importa muito como se tem, o que se teve de fazer para se ter (muitas vezes até são motivo de gabarolagem os atropelos às regras que se cometem), as consequências de se ter nem a qualidade do que se tem. Desde que se tenha...
Faz-me impressão ver aquelas famílias que, apesar de as haver em todos os clubes, associo sempre ao Benfica (e talvez por aqui se veja que o Benfica é o maior clube português):
O Pai - meia idade, bigode (esta coisa do bigode já foi mais popular), não é gordo, é pançudo, tem o telemóvel à cintura (portanto parcialmente escondido pela pança), curte o hino do Benfica, Quim Barreiros e Shakira (!)
A Mãe - da idade do pai, cabelo (mal) pintado de louro, roupas de adolescente (calças justas e tops) com cores berrantes (rosa shock e verde-pirilampo), corpo mal-jeitoso com rastos visíveis dos partos da sua prole, curte Ágata e Shakira
O Puto - dezasseis anos, "morto" (não pode passar uma fêmea ao pé sem que ele a meça) mas sem classe (porque nós também fazemos isto mas temos classe), camisola (do Benfica), cabelo brilhante (gel), curte Linkin Park, Eminem e música africana
A Pita - pouco mais nova do que o irmão mas parece mais velha (pinta-se ou melhor borra-se), veste-se como a mãe mas mostra mais, ainda está em desenvolvimento, curte Brittney Spears, Shakira e música africana
Esta família tem um rendimento mensal baixo, faz uma alimentação completamente irracional (muito McDonald's, muito frango assado, muita pizza, muitos sundaes, ops!, etc.) e é adepta ferrenha da contra-cultura (reality shows, malucos do riso, batanetes, novelas, etc.) os putos vêm MTV, SOL e MCM. Todos têm telemóvel de quase-topo de gama, o pequeno almoço é no café da rua (os adultos tomam café, um bolo e um frito e os juvenis ficam-se pelo bolo empurrado com refrigerante ou garrafa de leite achocolatado), às vezes vão todos ver o Benfica (os homens vão sempre que o jogo é na catedral). Estão a pagar a prestação da casa e a do Citroën Xsara ao banco, mas isso não os impediu de pedirem um crédito para comprar o écran gigante da sala, o sistema de home cinema, etc.. Resumindo, é uma família que vive bem acima das suas possibilidades: uma doença crónica que afecta boa parte dos portugueses desde que obter dinheiro se tornou tão fácil.
Não gosto da vida acima das possibilidades! Isto não tem nada a ver com as pessoas almejarem atingir melhor qualidade de vida. Sou a favor disso! Mas não gosto quando se assumem compromissos que dificilmente serão cumpridos.
Reparo agora que esta é a típica família Batanete! Sim, muitas vezes sou "obrigado" a ouvir esse programa. A minha família partilha alguns aspectos com a família que detesto. Aposto que as vossas também... Esta podia ser a família da novela. Mas acho que vocês arranjam qualquer coisa mais divertida... Espero por isso!
É um blog de estreia mais sem sal que os anteriores. Tem menos paixão. Gostei muito de escrever o da maratona. Foi "ZAU!", de rajada.
Vou almoçar que já estão à minha espera. Até amanhã, Malta!
Que o Senhor esteja convosco!

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